quarta-feira, 16 de setembro de 2009

AS GUIAS OU COLARES














Foto: Henrique Karam © 2009

O uso de colares, pulseiras e talismãs é tão antigo quanto a própria humanidade.
Todos os povos antigos pesquisados adotavam o uso de colares confeccionados com pedras roladas, seixos, dentes de animais, pérolas, penas, sementes, pedaços de ossos ou de madeiras esculpidas, conchas, unhas de certos animais, cabelos humanos ou crinas de animais trançados, etc.
São tantas as coisas usadas na confecção de colares que não nos é possível listar todas.
O uso com respeito de colares confeccionados de forma rudimentar se perde no tempo, tendo começado em eras remotas, quando ainda vivíamos em cavernas ou éramos nômades, mas precisávamos de protetores contra o mundo sobrenatural ou contra o perigo de animais e insetos venenosos ou os malefícios feitos por outras pessoas, etc.
Então, que fique claro aos umbandistas que o uso de colares ou “guias de proteção” não é uma coisa só da Umbanda ou dos cultos afro aqui estabelecidos. Inclusive, os índios americanos também usavam e ainda usam colares, braceletes, pulseiras e talismãs, tal como fazia e faz o resto da humanidade.
Os padres da Igreja Católica usam rosários, crucifixos pendurados no pescoço (um colar, certo?), escapulários, etc., assim como todos os sacerdotes da maioria das religiões atuais o fazem com seus colares consagrados.
Enfim, não há nada de excepcional, incomum ou fetichista no fato de os médiuns umbandistas usarem colares de proteção ou de trabalhos espirituais quando incorporados pelos seus guias.
O uso de colares era tão comum na Antiguidade que originou a ourivesaria e a joalheria como indústrias manufaturadoras de colares, pulseiras, braceletes, talismãs, tiaras, etc., para atender aos sacerdotes e aos fiéis mais abastados que preferiam ter objetos de proteção confeccionados com pedras e metais preciosos e de difícil aquisição pelo resto dos membros dos clãs ou tribos do passado.
Reis, rainhas, príncipes, imperadores, ministros, etc., que formam a elite dos povos antigos, não usavam colares comuns ou de fácil confecção, mas recorriam a artesãos especializados para confecciona-los, tomando a precaução de terem colares únicos e de mais ninguém.
Cadáveres eram enterrados com colares, talismãs, etc., pois precisavam proteger seus espíritos no mundo dos “mortos”, assim como haviam precisado deles aqui no mundo dos “vivos”, e isso acontece até os dias de hoje na cultura ocidental cristã, na qual o uso de antigos colares mágicos e protetores perdeu seus fundamentos, sendo substituídos por gravatas, lenços, cachecóis, fitas, etc., que envolvem o pescoço dos vivos e dos cadáveres, certo? Portanto, irmãos(ãs) umbandistas, não se sintam constrangidos(as) por usar em público colares ou “guias”, pois não é em nada diferente do que todo mundo faz.

sábado, 23 de maio de 2009

Ponto Cantado


















Os povos em suas liturgias religiosas, desde os tempos imemoriais, invocam suas divindades, não só pelo vocábulo, como também, pela palavra cantada, através de hinos, ladainhas, mantras, cânticos, salmos e pontos cantados.
É por intermédio do PONTO CANTADO, que o Umbandista com­plementa a invocação de determinados Guias das Linhas de Umbanda, os quais certamente cumprem o chamamento em obediência ao ponto.
Ele é o lenitivo que nos desliga por momentos das atribuições cotidianas, acercando-nos dos Guias e Protetores.
Assim sendo, podemos afirmar que os PONTOS CANTADOS, movimentam poderosas forças, pela magia do som, harmonioso e invocativo, que de certa forma condiciona o médium a promover os fenômenos mediúnicos.
Temos constatado que determinados pontos coordenados com fra­ses religiosas na sua extraordinária inflexão e expressão empolgante, despertam sentimentos místicos e psíquicos, naqueles que procuram comunicação com o astral, fazendo-os entrar num campo vibratório peculiar.
Procura-se através dos PONTOS CANTADOS, obter-se harmonia para a aproximação dos Guias Espirituais, manter concentrados os componentes do terreiro, integrando-os num ambiente de misticismo puro.
Em um terreiro de Umbanda é de muita valia e necessário se faz a presença de um elemento homem ou mulher para auxiliar a cantar e dar início aos pontos, devendo o mesmo estar perfeitamente ambientado e ser conhecedor do ritual, concorrendo para o ritmo e cadência dos cânticos. Denominado SAMBA, cuja palavra provêm de um dos verbos da língua Quimbundo: KÚSAM­BA ou KUSÁMBA, que quer dizer, orar, rogar, saltitar, rejubilar, a ele está afeto a incumbência dos PONTOS CANTADOS, quando solicitados pelo Ogam, pelo Guia em trabalho ou ainda quando houver necessidade para tal fim.
Inúmeras são as finalidades dos PONTOS CANTADOS nos terreiros de Umbanda. Servem entre outras, para DEFUMAÇÃO, PEDIDO DE FORÇAS, para SUBIDA ou DESCIDA DOS GUIAS, HOMENAGENS, PEDIDOS DE GRA­ÇA, AGRADECIMENTOS, etc.
Devemos considerar ainda, que todo espírito tem seu PONTO CAN­TADO individual e de linha, pelo qual é invocado, individualizado e que por intermédio dos mesmos, possamos ter a garantia de uma comunicação precisa, reconhecendo no espírito manifestante, a sua classificação na linha de origem e seu grau evolutivo, causando uma diferenciação distinta entre os espíritos, mormente de um Caboclo para um Preto Velho.


Texto extraído do livro: Eu e a Umbanda
Autor: Edmundo Rodrigues Ferro

domingo, 12 de abril de 2009

Caminhos















Todos nós, encarnados ou desencarnados, sabemos que foi colocado à nossa frente dois caminhos. Um, leva à escuridão, às trevas, ao lodo, ao limo. Nestas paragens, atolamo-nos em nossas próprias ignomínias e inconsciências, perdemo-nos no desespero de nossos erros e lembramos nossas vidas pretéritas, sequiosos por ter uma nova orportunidade para reabilitarmo-nos. O outro leva-nos à uma escada de luz, de difícil acesso, com muitas dificuldades e tropeços. Quantos a rejeitam. Quantos dela fogem, preferindo caminhos mais curtos, curvas mais agradáveis, mais fáceis de serem contornadas. Entretanto, se enfrentarmos a escalada, com amor, com caridade, com bondade em nossos corações, nossos Guias queridos ajudam-nos nas quedas e acabam levando-nos ao final da jornada. E encontramos então o Jardim do Pai Celestial, o Édem Maravilhoso, e colhemos flores nos Canteiros de nosso Pai e ainda teremos oportunidade de ajudarmos os nossos irmãozinhos, atirando pétalas destas flores, nos caminhos dos menos favorecidos, dos mais ignorantes, afim de nos ajudar ajudando outros.
Os que procuram a comunicação com os espíritos, os que ouvem Seus conselhos, os que seguem Sua linha, devem entrar numa Tenda de Caridade, com caridade no coração. Devem não ir apenas com suas vestes brancas e imaculadas. Tem obrigação de comparecer com seus corações renovados de bons propósitos, brancos e imaculados como o Manto de Nossa Mãe.
O Filho Querido, Jesus, nosso querido Oxalá, está presente em todas as reuniões, através de seus Mensageiros Maravilhosos baixados nas figuras dos Pretos-Velhos e Caboclos, firmeza da Umbanda, sorrindo com nossas horas de felicidade, ajudando-nos, aparando-nos em nossas horas de tristeza. Como receber Oxalá, como receber nossos Pretos-Velhos e Caboclos, com o coração escuro, cheio de erros! É preciso melhorar. É preciso caminhar para frente e para o alto e todos nós estamos a caminho desta grande melhoria.

Texto extraído do livro: "O Livro dos Médiuns de Umbanda"
Autor: Antonio Alves Teixeira Neto (1967)

segunda-feira, 23 de março de 2009

Um padre no terreiro














"O Cristo foi o iniciador da moral mais sublime: a moral evangélico-cristã, que deve renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los irmão."

Padre André acabava de chegar naquela comunidade do interior paulista. Como sempre fazia quando era transferido para novo local de trabalho, caminhava horas a fio pelas ruas com a finalidade de conhecer as pessoas do lugar. Ainda bastante jovem, era dinâmico e muito sorridente, o que cativava a simpatia de seus paroquianos.
A apenas um dia de sua chegada, quando ainda não havia rezado a missa dominical de apresentação, Padre André fazia sua caminhada matinal e, ao passar por uma esquina, observou um grande número de pessoas que ali se aglomeravam, chamando a atenção entre risos e brados de indignação. Aproximando-se, houve um silêncio respeitoso diantes de sua presença, que foi quebrado por uma senhora idosa que, demonstrando desconforto, bradou:
- Veja, seu Padre que absurdo o que fazem esses macumbeiros! É preciso que o senhor mande fechar esses lugares do demônio que proliferam aqui em nossa cidade.
Padre André pôde observar que na esquina havia uma oferenda em que restos de uma ave, entre outras coisas, causavam um cheiro muito ruim e atraíam moscas.
Solicitou que as pessoas se afastassem, pois ele mesmo daria um jeito de retirar aquele material para evitar o encômodo que causava aos vizinhos do local.
- Eu, se fosse o senhor, não mexeria nisso! Isso é feitiço e pode até matar uma pessoa - ousou ainda desabafar a indignada senhora.
- Não se preocupe, minha senhora. Pode voltar tranquila para sua casa.
Padre André já havia passado por muitas situações desconsertantes e improvisos de toda ordem nos poucos anos de seu sacerdócio, mas era sua primeira experiência em juntar oferenda de esquina. Com uma brave oração à São Francisco de Assis, a quem considerava seu amparador, pediu proteção e intuição de como deveria agir.
Olhando ao redor, observou uma caixa de papelão e dela fez uso para, com todo o respeito, recolher com um pedaço de pau a oferenda que estava colocada em uma bandeija de papel. Com a ajuda de um menino e de uma pá, andou algumas quadras e, em um terreno baldio, cavou e enterrou o material, uma vez que sabia que a terra logo trataria de desitegrar tudo aquilo. Antes, tomara o cuidado de retirar os materiais que não se deteriorariam no solo, como um copo plático e uma garrafa de vidro, e depositá-los em uma lixeira.
O menino, curioso e ao mesmo tempo sentindo-se previlegiado por ter sido escolhido como ajudante do Padre, não poupou as perguntas:
- Seu Padre, é verdade que isso é feitiço e que é feito para o mal das pessoas?
- Não posso lhe afirmar como que intenção isso foi feito, meu filho. O que posso afirmaré que o maior erro está em sacrificar um pobre animal e, ainda por cima, expor seus restos em um lugar público, causando mal cheiro e transtorno às pessoas que usam a via.
- Mas isso não é coisa oferecida para os maus espíritos? Minha mãe sempre me fala pra não chegar perto dessas coisa, pois ali está cheio de maus espíritos.
Padre André não pode deixar de sorrir e completou.
- E você sabe o que é um "mau espírito"?
- Sei não, seu Padre!
- Ah, então deixa assim. Vai jogar bola com os garotos e tenha um bom dia.
- Sua benção, Padre.
Na caminhada de volta à igreja, o Padre parou para conversar com um senhor idoso que calmamente assobiava enquanto juntava em uma sacolinha os papéis e plásticos que encontrava jogados entre as flores da praça.
Encantado com o gesto, cumprimento amigavelmente o homem que, ao vê-lo, o saudou reverentemente.
- Bom dia, Padre. Muito prazer em conhecê-lo. Sou Justino, e moro nesta cidade há mais de quarenta anos.
E com um sorriso completou:
- Então, o senhor é o Padre que juntou a oferenda da esquina onde mora dona Mariana.
- Bom dia, seu Justino. Sou eu mesmo, mas como o senhor já sabe disso, se faz alguns minutos apenas?
Sorrindo mais ainda, Justino falou:
- Padre, cidade pequena é assim. Funciona o telefone sem fio numa rapidez incrível!
Agora quem sorria com vontade era Padre André.
- Estou vendo o senhor juntar o lixo da praça. Parabéns, seu Justino.
- Ah, Padre, faço isso todas as manhãs, pois estou aposentado e enquanto faço minha caminhada matinal aproveito e recolho coisas que as crianças deixam na praça, ou que o vento trás das ruas.
- Louvável sua disposição. E vejo que faz isso com alegria.
- Sabe, a gente nesta idade já passou por tantes experiências de vida que resolve ou ser feliz ou ficar um velho azedo. Escolhi ser feliz, até porque minha vida é maravilhosa. Tenho família que me respeita, tenho saúde e tenho minha fé, que me sustenta nos momentos difíceis.
- Ah, mas que bom ouvir isso. E qual é sua fé, seu Justino?
A essa altura os dois procuraram um banco à sombra e ali se acomodaram. A pergunta do Padre André se dava em razão de ter observado que seu Justino carregava no pescoço uma corrente prateada com pequenos símbolos dispostos e intercalados.
- Sou umbandista, padre, com a graça de Oxalá - respondeu seu Justino, olhando para o alto, com a mão direita sobre o coração.
Encantado com o respeito daquele senhor pela natureza e também pelos seus Orixás, o padre entusiasmou-se em perguntar:
- Seu Justino, com todo o respeito, e deduzindo que o senhor conhece o assunto, gostaria de lhe perguntar sobre essas oferendas popularmente chamadas de macumba.
- Padre, tenho por costume levantar muito cedo e dar minha volta pela cidade. O trabalho que o senhor fez hoje de juntar da esquina aquele material, eu tenho feito quando encontro isso no caminho. Começo esclarecendo ao senhor que esse tipo de oferenda não é realizado por adeptos de minha religião, a Umbanda - embora, por falta de conhecimento se atribuam aos umbandistas essas atitudes que considero um afronto ao bom senso e um desrespeito com as pessoas e a natureza. Sou umbandista há trinta anos, e hoje dirigente de uma casa de Umbanda, e lhe digo que nunca matei um animal para oferendar, e nunca sujei a natureza ou uma encruzilhada. Desta forma estaria agredindo os princípios dessa sagrada religião. Os irmãos umbandistas que fazem parte da nossa casa são instruídos a realizarem a limpeza dos sítios vibratórios da natureza, local sagrado em que se manifesta a força dos Orixás e que nos refáz as energias. Uma vez por mês, em um domingo, percorremos toda a extensão do riacho e limpamos suas margens e a cachoeira. Ness cachoeira, depois da limpeza, realizamos um pequeno culto aos Orixás, saudando as sete linhas da Umbanda através de nossos guias e protetores que nos presenteiam com sua presença e sua irradiação, deixando suas mensagens aos filhos da terra.
- Se Justino, a que o senhor atribui as oferendas das esquinas e encruzilhadas? Com todo respeito ao seu culto, sempre ouvi falar que isso era feito pela Umbanda.
- Infelizmente, padre, existe uma triste confusão em relação à Umbanda com outros cultos, que insistem em ser chamados de umbanda ou espiritismo pelo fato de usarem a mediunidade. A Umbanda é acima de tudo caridade desinteressada e, sendo assim, jamais vai contrariar as leis divinas que respeitam todas as criaturas e seres do universo. Não posso lhe dizer a quem pertence a responsabilidade desses "despachos" colocado em lugares estratégicos. O que sei é que, seja de quem for, eu respeito, mas não compartilho de suas idéias e não compactuo com seus métodos de trabalho. Afirmo categoricamente, baseado nas palavras do espírito iluminado que implantou a Umbanda em solo brasileiro, que isso não é trabalho de umbanda.
Impressionado com a sabedoria que exprimiam as palavras daquele homem simples, e vendo nele a dignidade tão em falta nas pessoas de hoje, o padre o abraçou, comovido, prometendo voltar outras manhãs para conversarem mais, já que neste dia muitas atividades o aguardavam.
De volta à igreja, padre André deparou com três senhoras que, ajoelhadas, pareciam rezar fervorosamente e que, ao vê-lo, vieram ao seu encontro, cheias de curitosidade.
- Como foi a conversa, padre? O senhor proibiu aquela gentinha de continuar fazendo seus despachos?
- Bom dia, minhas senhoras. Que Nosso Senhor Jesus Cristo as abençoe! De que conversa as senhoras falam?
- Com o macumbeiro, lá na praça.
- Estive conversando com seu Justino, com quem simpatizei muito.
Fazendo o sinla da cruz, as três senhoras o alertaram:
- Padre, ele é o feiticeiro que larga aqueles horrores nas esquinas. Eu mesmo já o vi de madrugadinha fazendo isso na esquina de casa.
- A senhora tem certeza do que fala? Não estaria ele retirando aquilo que estava na esquina e limpando a rua?
- Nada...ele é quem faz e coloca. Dizem até que tem criação de galo preto só para fazer esses feitiços e que cobra uma nota...
- Isso mesmo, padre. Falam até que a mulher dele, que é bruxa, usa de sortilégio para atrair pessoas e delas tirar dinheiro.
A outra senhora, com os olhos arregalados, esperava uma reação do sacerdote.
Calmamente, ele as ouviu dispararem suas ferinas línguas quais flechas envenenadas e depois, pedindo licença, despediu-se, convidando-as a participar da sua primeira missa dominical na cidade.
Em muitas outras manhãs, Padre André levantava bem cedo para poder encontrar-se com seu Justino e, juntos, caminhavam pelas ruas da cidade aproveitando a brisa matinal, momentos em que aprendia muito com aquele sábio homem.
- Seu Justino, vou lhe fazer uma pergunta que há muito fervilha em minha cabeça. O senhor já me explicou muito sobre mediunidade, mas como saber se somos médiuns? Eu poderia ser um deles?
Com largo sorriso, seu Justino responde:
- Jesus foi o maior médium que já encarnou aqui na terra. Médium do Cristo Cósmico, trazia dele as mensagens e luzes que espalhou por entre os homens em sua curta trajetória terrena. Usou isso para curar o corpo e a alma dos homens. Mas, por contrariar a convicção dos poderosos e ignorantes, como hoje ainda acontece, ele foi mal incompreendido e assassinado sob acusação de prática de feitiçaria. Muitos outros, antes e depois dele, desceram à Terra com essa missão mediúnica. E quase todos foram sacrificados, pelo orgulho e pelos interesses mesquinhos do poder. Mediunidade não escolhe religião para se manifestar; escolhe a necessidade do espírito em ressarcir erros passados ou vem como missão, como era o caso de Jesus. A mediunidade fornece oprotunidades de auxiliar o Criador na sua obra do bem, mas que por vezes é distorcida e mal-usada também.
Olhando firme nos olhos do Padre, seu Justino afirma, irradiado por seu guia espiritual:
- o senhor, padre André, é um missionário do bem e, como tal, dispõe da faculdade mediúnica que lhe foi dada para levar a verdadeira mensagem cristã ao coração dos homens, e por isso tem sido incompreendido dentro da Igreja e transferido seguidamente de paróquia.
Com os olhos banhados em lágrimas pela emoção que sentiu ao ouvir as palavras de seu Justino e também pela energia que o envolveu, dando-lhe um bem-estar muito grande, padre André lembrou de quantas vezes seus projetos de evangelização eram boicotados por seus superiores. Nunca havia entendido por que era tão discriminado e mal-interpretado dentro da sua amada Igreja.
naquele momento, depois de tantas conversas esclarecedoras e racionais daquele bom homem, ele compreendia o que significam seus "sonhos" com aquele que considerava um "anjo" e que, agora sabia, eram encontros em desdobramento do sono com seu protetor espiritual. Compreendia as suas "visões" de coisas que outras pessoas não enxergavam e até sorria ao lembrar o dia em que, na hora da distribuição da sagrada comunhão, a hóstia havia caído de suas mãos pelo susto da visão que tivera. Ao ofertar a comunhão para uma pessoa, esta abriu a boca e dela saiu uma língua de duas pontas, como a de uma cobra que sibilava. Outras visões de seres iluminados ou seres enegrecidos junto às pessoas eram comuns durante sua missa.
Padre André agora enfatizava em seus sermões, mais do que nunca, o respeito que deveriam ter seus fiéis com a fé alheia e o discernimento do bem e do mal, bem como que deveriam evitar julgamentos precipitados a respeito das pessoas que não comungassem das mesmas idéias.
No dia em que resolveu tocar sutilmente na idéia reencarnacionista, durante uma missa de velório, foi duramente advertido por alguns católicos ortodoxos que não tardaram em denunciá-lo para o bispo dizendo que, além de ter idéias esdrúxulas, padre André estava enfeitiçãdo por Justino.
Em poucos dias, padre André recebeu sua trasnferência, junto à séria ameaça de interdição de seu apostolado.
Triste, foi ter com seu amigo Justino na manhã seguinte, de quem recebu palavras de incentivo.
- Justino, meu caro e estimado amigo. Até hoje evitei realizar um sonho pelo receio do ue isso viesse a causar mas, diante dos fatos, vou pedir-lhe se posso visitar sua casa de umbanda antes de deixar a cidade, durante a gira, como vocês chamam.
Com seu habitual sorriso, Justino o abraçou e falou:
- Nossa casa é de caridade e aberta a todos que a buscam. Será uma honra e um prazer recebê-lo, meu amigo querido. Lá recebrá de seus protetoresa luz e a força de que vai precisar para continuar sua caminhada.
E, assim, aquele que nascera em família católica e escolhera a missão mediúnica de sacerdote dentro da sua religião entrava na Casa de Caridade Umbandista Caboclo Ubiratan, dirigida por um sacerdote umbandista, seu amigo Justino. Lá, sua alma se reencontrava com velhos e queridos amigos de outras paragens e de outros tempos que se perdiam na história. Sua vidência acentuada agora se ampliavam naquele ambiente iluminados pelas luzes da caridade, e de seus olhos as lágrimas emocionadas rolavam. Seu corpo todo e seu espírito vibravam ao toque dos atabaques e ao cantar dos pontos que a ele soavam conhecidos.
Humildemente, aguardou por seu atendimento e, quando se ajoelhou diante do méduim Justino, incorporado por seu preto velho que pitava um cheiroso cachimbo, seus olhos se arregalaram diante da visão. Ali, na simplicidade do terreiro e com a aparência de um mestiço velho, era impossível não reconhecer no sorriso e nas palavras o seu amado instrutor e amigo espiritual que, seguidamente, lhe presenteava com sua presença na figura de um sacerdote jovem e altivo.
E dele recebeu o abraço, o alento e a promessa de continuarem pregando o verdadeiro Evangelho. Respeitando as leis da Igreja, alertariam as mentes para aquilo que O Mestre ensinou em suas andanças: o amor e o perdão incondicional. Havia a certeza de que, em cada lugar onde estivesse, estaria sendo útil aos homens e a Deus, enquanto levasse consigo a pureza de propósitos em seu coração.
No outro dia, ainda de madrugada, seu Justino aguardava junto com padre André o ônibus que o levaria para a nova morada. Na despedida, um abraço emocionado e sem palavras era a promessa de que, em algum lugar, algum dia, os dois velhos amigos se reencontrariam para novos aprendizados.
Em caminhos e situações diferentes, pelas veredas da vida, encontramo-nos seguidamente com almas afins, pois é preciso matar as saudades que nosso espírito traz, refazendo os laços que unem os corações que se amam. O verdadeiro e incondicional amor transcende o tempo e perdura pelos milênios afora. Quando o reencontro acontece, se dá como um novo renascer.


Texto extraído do livro “Vovó benta e seus Causos de Umbanda – Vol. 2 – outras histórias”Obra psicografada por Leni W. Saviscki

quarta-feira, 11 de março de 2009

A cadeira


O sacerdote foi chamado para orar por um homem muito enfermo. Quando o sacerdote entrou no quarto, encontrou o pobre homem na cama com a cabeça apoiada num par de almofadas. Havia uma cadeira ao lado da cama, fato que levou o sacerdote a pensar que o homem estava aguardando a sua chegada.
- Suponho que estava me esperando? - disse o sacerdote. - Não, quem é você? - respondeu o homem enfermo.- Sou o sacerdote que a sua filha chamou para orar por você; quando entrei e vi a cadeira vazia ao lado da sua cama, imaginei que você soubesse que eu viria visitá-lo.- Ah sim, a cadeira! Entre e feche a porta.
Então o homem enfermo lhe disse:- Nunca contei para ninguém, mas passei toda a minha vida sem ter aprendido orar.Não sabia direito como se deve orar. E nunca dei muita importância para a oração. Pensava que Deus estava muito distante de mim.- Assim sendo, há muito tempo abandonei por completo a idéia de falar com Deus.
Até que um amigo me disse:- “José, orar é muito simples. Orar é conversar com Jesus, e isto eu sugiro que você nunca deixe de fazer... você se senta numa cadeira e coloca outra cadeira vazia na sua frente. Em seguida, com muita fé, você imagina que Jesus está sentado ali, bem diante de você”. Afinal Jesus mesmo disse: - “Eu estarei sempre com vocês”.
- Portanto, você pode falar com Ele e escutá-lo, da mesma maneira como está fazendo comigo agora.
- Pois assim eu procedi e me adaptei à idéia. Desde então, tenho conversado com Jesus durante umas duas horas diárias. Tenho sempre muito cuidado para que a minha filha não me veja... pois me internaria num manicômio imediatamente.
O sacerdote sentiu uma grande emoção ao ouvir aquilo, e disse a José que era muito bom o que estava fazendo e que não deixasse nunca de fazê-lo.Em seguida orou com ele e foi embora.Dois dias mais tarde, a filha de José comunicou ao sacerdote que seu pai havia falecido.
O sacerdote então perguntou: - Ele faleceu em paz?
- Sim, quando eu estava me preparando para sair, ele me chamou ao seu quarto.
Ele disse que me amava muito e me deu um beijo. Quando eu voltei das compras, uma hora mais tarde, já o encontrei morto. Porém há algo de estranho em relação à sua morte, pois aparentemente, antes de morrer, chegou perto da cadeira que estava ao lado da cama e encostou a cabeça nela. Foi assim que eu o encontrei.Porque será isto? – perguntou a filha.
O sacerdote, profundamente emocionado, enxugou as lágrimas e respondeu:- Ele partiu nos braços do seu melhor amigo...

Texto retirado da internet, autor desconhecido.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

A verdadeira psicologia


“Os espíritos simpáticos são aqueles que se ligam a nós por uma certa semelhança de gostos e tendências.”

Enquanto a preta velha passava o galho de arruda em suas mãos, exalando o perfume forte da erva amassada que se misturava ao cheiro de fumo queimado de seu palheiro, Maria Rita se perguntava o que estava fazendo ali, se nem fé ela tinha mais. Viera até o terreiro de umbanda convidada pela sua prima, a qual acreditava fielmente que os pretos velhos iriam iluminar sua mente atordoada.
A princípio aceitou, mas, chegando naquele ambiente demasiadamente humilde para seu padrão de vida e vendo aquelas pessoas que se aglomeravam na assistência em busca de um atendimento, na sua maioria gente simples e sofrida, cujos olhos brilhavam ao soar dos atabaques, percebeu que ali não era seu lugar. Sua fé ou era demasiada pequena ou sofisticada demais para acreditar naquilo tudo, que mais lhe parecia uma peça teatral.
Psicóloga, achava-se terapeuta das almas, cuja metodologia trazida dos bancos universitários, bem como o diploma na parede, dava-lhe a sensação de superioridade diante daquela gente ignorante e pobre que por falta de recursos e de instrução, se obrigava a ter como bengala uma religião.
Mas a ciência em que tanto acreditava já havia lhe tirado as esperanças de gerar o filho tão desejado. Todos os tratamentos nas melhores clínicas do país já haviam sido procurados e, embora não houvesse nenhum problema físico constatado, nem nela nem no marido, a gravidez não acontecia. Por duas vezes tentou a inseminação artificial, e até essa falhara.
- Zi fia tá zi muito desconfiada, num é?
Assustada, despertou de seus pensamentos e tentou disfarçar a contrariedade, ao que a preta velha, amorosamente segurando suas mãos entre as dela afirmou:
- Negra velha sabe que a filha está com o coração apertado e que, por várias noites, chora de tristeza por não poder parir um filho de seu ventre.
- Como a senhora sabe disso?
- Porque negra velha está lendo isso na sua história filha, que está impressa na grande tela universal, como a história de todos os filhos de Deus está. Por sua infinita bondade, Ele nos permite esse acesso para poder ajudar aqueles que têm necessidade e, acima de tudo, merecimento. Mas quero esclarecer para a filha que isso não significa “adivinhatório” e, sim, uma ferramenta de auxílio. O ventre de uma mulher é templo sagrado para onde o Criador envia espíritos necessitados de um corpo carnal. É ali que, num verdadeiro milagre, juntam-se células para formar uma nova vida, uma nova história. É como se Ele lançasse uma semente para brotar no solo, precisando ela ser regada pelo sentimento de amor. Mas nem sempre a semente encontra solo fértil, uma vez que a falta de cuidados com este solo no passado pode ter deixado a erosão levar embora seus nutrientes. Assim, mesmo que agora seja regada pelo amor, a sementinha perece. São esses ventres que no passado não permitiram que brotassem as sementes a ele lançadas, embora fossem férteis. Ou, se as deixaram nascer, não regaram a semente com a água do amor, levando a plantinha à morte.
A essa altura do monólogo da preta velha, a mulher deixava as lágrimas escorrerem pelo seu rosto. E, em poucos minutos, a angústia que estava congestionando seu peito transformou-se em um soluço quase convulsivo, levando seu corpo todo a estremecer. Acarinhada pela preta velha, ela esquecia sua posição social, sua empáfia toda, e se despia do orgulho, deixando que a bondosa entidade a aconchegasse contra o peito, num gesto maternal. Nem ela sabia o quanto estava carente desse amor desinteressado e fraterno.
- Chore, filha. Deixe que suas lágrimas lavem sua alma.
Quando a mulher se acalmou, a preta velha continuou:
- A filha tem amor e boa vontade para receber no seu lar os filhos que Deus lhe der. Então, filha querida, deixe que outros ventres que podem parir tragam até você esses espíritos para que possa regá-los e deixá-los crescer com seu amor e cuidado.
- A senhora fala de adoção?
- Isso mesmo. E negra velha explica para a filha que nada no Universo acontece sem o conhecimento e a permissão do Grande Pai. Toda criança que chega até um lar, seja através de quem for, tem fortes ligações cármicas com aquela família. Os seus filhos já estão a caminho e só o que falta é que você e seu companheiro os aceitem, mesmo paridos por outro ventre.
Um tanto assustada, a mulher secou as lágrimas e falou:
- Mas adotar é complicado...
- Complicado, minha filha, é abandonar. Adotar é restaurar a oportunidade de sermos pais sem parirmos, assim como Deus. Abra sua mente para essa possibilidade. Não lhe falta nada para receber esses filhos. Pense, reflita e deixe que seu coração decida.
Abençoando-a, a preta velha beijou as mãos daquela mulher que há pouco havia entrado ali envolvida numa nuvem escura, criada por sua tristeza e seu orgulho, e que saía agora com luzes de esperança a iluminar seu rosto que serenava.
Nos dias que se seguiram, apesar do envolvimento com seu trabalho, a idéia de adoção foi tomando vulto, e o que lhe parecia uma coisa fora de cogitação agora era pensada com muito carinho.
Certa manhã, a pedido de uma amiga, atendeu uma senhora enviada pela Assistência Social, grávida e com um sério problema depressivo. Na entrevista com a paciente, soube que a mesma era muito pobre, já tinha mais cinco filhos e que o marido a abandonara depois que engravidou novamente. Como se não bastasse, esperava por gêmeos.
O coração da psicóloga amoleceu diante de tamanha dor e, inevitavelmente, as palavras da preta velha ressoaram em sua mente. Tratou com um carinho incomum aquela paciente e, em uma das consultas, pôde perceber o medo que ela tinha em receber mais duas crianças para se somar á sua miséria. Sem pensar duas vezes, perguntou-lhe:
- Você não quer me dar estes dois bebês para que eu os crie? Eu não posso ter filhos...
- Meu Deus, obrigada!, foi tudo o que conseguiu responder no meio do pranto que a abatia. Abraçando a psicóloga, continuou:
- Pedi tanto a Deus que um anjo de bondade me fosse enviado e pudesse assumir esses filhos que são meus, mas que as circunstâncias me impedem até de desejar. Que alívio a senhora me dá, pois serão menos dois a passar necessidade.
Passados dois meses, o lar da psicóloga recebia duas lindas meninas, cujo chorinho enchia a casa de vida. Por elas esperava um lindo quarto decorado com tudo que há de melhor e mais bonito – mas, sobretudo, esperavam dois corações ansiosos e decididos a lhes dar muito amor.
Não havia como não levar as gêmeas até a preta velha para sua bênção e para um agradecimento.
- Salve, zi fia. Dizem que morto não chora, mas nega véia mesmo aqui no mundo dos mortos se emociona diante da grandeza de que é capaz o amor de nosso Pai, que permite endereçar a cada filho, na hora certa, o presente adequado. Flores que foram abandonadas outrora, que murcharam e morreram, mas que voltam como novas sementes para enfeitar as mesmas vidas. Que Nosso Senhor Jesus Cristo possa abençoar a essa “reunião” de vossos espíritos.
Os dois bebês, que dormiam no colo dos pais, desdobrados em corpo espiritual, sorriam felizes ao receber um banho de energias em forma de gotículas douradas. Relembravam que outrora, através deste tratamento, seus corpos astrais dilacerados pelo aborto foram curados.

Saravá, Vovó Joaquina!
Sarava o seu conga!
Ela vem lá de Aruanda
Pra rezar seu patuá.

Texto extraído do livro “Vovó benta e seus Causos de Umbanda – Vol. 2 – outras histórias”
Obra psicografada por Leni W. Saviscki

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Defeitos Ocultos


Serve para que cada pessoa diagnostique um comportamento indesejado em si mesmo e nos demais. Muitas vezes, um filho-de-terra, deixando-se envolver pelo lado negativo das forças que o influenciam, não percebe que a semente que gerou um comportamento indesejado deve ser combatida; deixa-se levar a acreditar que isso faz parte de usa personalidade, como uma característica fixa; porém, se todos percebessem os próprios enganos, teriam condições de mudar para melhor, abandonando seus hábitos negativos.

Certa vez chegou ao terreiro um homem cuja característica era um ar sério, sem qualquer esboço de sorriso. Ele ouvia as explicações do guia sobre sua vida e suas necessidades materiais, como dinheiro ou trabalho e, ao que parecia, iria sair tão calado como chegara, levando, juntamente com a lista dos artigos necessários para sua oferenda, sua fisionomia fechada de sempre. Porém, quando parecia ter chegado o fim da consulta, Pai Mané disse:

“- Agora que você já sabe como combater as suas dificuldades e que já sabe a que orixá pedir e o quê oferecer, chegou a hora de eu colocar um sorriso no seu rosto.”

O homem perguntou:

“- Como assim?”

E Pai Mané Quimbandeiro respondeu:

“- Meu filho, se você olhar para trás e enxergar a sua infância e juventude, verá você mesmo alegre e com gosto para ser líder nas brincadeiras e nos jogos. Se você olhar para trás, verá que sua cara fechada não tem base em sua personalidade, já que antes não era assim. O que pode ter acontecido para você se comportar desse jeito? Será que foi só um fato, ou foram vários casos isolados, que deram motivos para tanta cara fechada?

Você acha que não? Se você se perceber em uma roda de amigos, onde todos o considerem, você estará sorrindo, mostrando a alegria que lhe era peculiar. Sendo assim, eu lhe digo que, sendo você um filho de Xangô e recebendo dele um axé que pode ser interpretado como o de um grande homem ou um rei, estará correndo risco de se condenar ao crédito e ao desamor, já que não tem bens e não sabe lidar da melhor forma com as pessoas que gostaria de comandar e por quem gostaria de ser respeitado.

Desta forma, aquilo que deveria ser positivo torna-se destrutivo, por causa de suas cobranças pessoais. Quando realço as cobranças pessoais, é porque estas é que, muitas vezes despercebidamente, são capazes de o enterrar em um mar de desgosto, já que a cobrança alheia você sabe rechaçar com meia-dúzia de palavras ásperas.
Então, esqueça-se dos outros ou de qualquer coisa que lhe sirva de desculpa para o seu mau humor, e concentre-se em responsabilizar-se por esse comportamento, que tanto diminui a sua imagem externa como a interna. Para pôr um ponto final neste assunto, digo-lhe que, se não conseguir sorrir para a vida, dificilmente ela lhe dará boa graduação evolutiva; e a evolução pessoal é o mais importante motivo da vida que lhe foi dada.”

Acabado o discurso de Pai Mané, o homem já sorria, crente na importância dessa atitude.
A mensagem que fica dessa história é que, quem se enquadrar em uma das tantas manias negativas que caracterizam o comportamento quotidiano das pessoas, nunca deve dizer orgulhosamente: “- Eu sou assim e não vou mudar.” Se nesta terra tudo tem dois lados, duas faces, certamente todos terão condição de inverter qualquer situação.


Texto extraído do livro “Conselhos de Preto-Velho na Umbanda”
Autor: José Luiz de Ogum

domingo, 18 de janeiro de 2009

Mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas


Em 1971, a senhora Lilia Ribeiro, diretora da Tenda de Umbanda Luz, Esperança, Fraternidade (TULEF) gravou uma mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, que espelha bem a humildade e o alto grau de evolução dessa entidade de luz:

A umbanda tem progredido e vai progredir ainda mais. É preciso haver sinceridade, honestidade. Eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a umbanda; médiuns irão se vender e serão expulsos mais tarde, como Jesus expulsou os vendilhões do templo. O perigo do médium homem é a consulente mulher; do médium mulher, o consulente homem. É preciso estar sempre de prevenção, porque os próprios obsessores que procuram atacar as nossas casas, fazem com que toque alguma coisa no coração da mulher que fala ao pai de terreiro, como no coração do homem que fala à mãe de terreiro. É preciso haver muita moral para que a umbanda progrida, seja forte e coesa. Umbanda é humildade, amor e caridade – essa é a nossa bandeira. Neste momento, meus irmãos, me rodeiam diversos espíritos que trabalham na umbanda do Brasil: caboclos de Oxossi, de Ogum, de Xangô. Eu, porém, sou da falange de Oxossi, meu pai, e não vim por acaso, trouxe uma ordem, uma missão.
Meus irmãos, sede humildes, tende amor no coração, amor de irmão para irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos superiores que venham trabalhar entre vós. É preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para àqueles que vêm em busca de socorro nas casas de umbanda.
Meus irmãos, meu aparelho já está velho, com 80 anos a fazer, mas começou antes dos dezoito. Posso dizer que o ajudei a se casar, para que não estivesse a dar cabeçadas, para que fosse um médium aproveitável e que, pela sua mediunidade, eu pudesse implantar a nossa umbanda. A maior parte dos que trabalham na umbanda, se não passaram por esta Tenda, passaram pelas que saíram desta casa.
Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao planeta Terra na humildade de uma manjedoura, não foi por acaso; assim o Pai determinou. Podia ter procurado a casa de um potentado da época, mas foi escolher naquela que poderia ser sua mãe um espírito excelso, amoroso e abnegado. Que o nascimento de Jesus e a humildade que Ele demonstrou na Terra sirvam de exemplo a todos, iluminando os vossos espíritos, extraindo a maldade dos pensamentos ou das práticas. Que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz reine em vossos corações e nos vossos lares. Fechai os olhos para a casa do vizinho; fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não julguei para não serdes julgado; acreditai em Deus e a paz entrará em vosso lar. É dos Evangelhos. Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou a Terra, porém amigo de todos, numa comunhão perfeita com companheiros que me rodeiam neste momento, peço que eles observem a necessidade de cada um de vós e que, ao sairdes deste templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos curados, e a saúde em para sempre em vossa matéria. Com um voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e caridade, sou e sempre serei o humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas.”

Texto extraído do livro “Umbanda Pé no Chão – Um guia de estudos orientados pelo espírito Ramatís"
Autor: Norberto Peixoto

sábado, 17 de janeiro de 2009

Anjos e Demônios


"...a marioria das pessoas imaginava que os cultos satânicos fossem rituais de adoração do demônio e, no entanto, os satanistas eram historicamente homens instruídos que assumiam sua posição de adversários da Igreja. Shaitan (*Shaitan é um termo islâmico que significa "adversário" - adversário de Deus. Shaitan é a origem da palavra "Satã"). Os rumores sobre sacrifícios satânicos de animais, magia negra e rituais do pentagrama não passavam de mentiras disseminadas pela Igreja como parte de uma campanha de difamação contra seus inimigos. Ao longo do tempo, outros adversários da Igreja, querendo imitar os Illuminati, começaram a acreditar nessas mentiras e praticar os supostos rituais."


Texto extrído do livro "Anjos e Demônios"

Autor: Dan Brown
Colaboração: Patricia Sabadin

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Evangelho de Jesus


“A umbanda vivencia o Evangelho de Jesus em sua essência através da manifestação do amor e da caridade prestada pela orientação dos guias e protetores que recebem a irradiação dos orixás. Encontramos no terreiro da verdadeira umbanda entidades que trabalham com humildade, de forma serena, caritativa e gratuita; espíritos bondosos que não fazem distinção de raça, cor ou religião, e acolhem todos que buscam amparo e auxílio espiritual, conforto para dores, aflições e desequilíbrios das mais variadas ordens.
A umbanda convida o homem a se transformar. Assim sendo, o consulente recebe esclarecimento sobre sua real condição de espírito imortal, ou seja, é levado a entender que é o único responsável pelas próprias escolhas, e que deve procurar progredir na escala evolutiva da vida, superando a si mesmo. Mas para transformar-se é preciso estar pronto para compreender as energias que serão manipuladas, porque elas trabalham com o ritmo interno. Ouvir a intuição é, portanto, ouvir a si próprio; é saber utilizar os recursos necessários que estão disponíveis para efetuar a mudança do estado de consciência.
Por isso, transformar significa reverter o apego em desapego, as faltas em fartura, a ingratidão e o ressentimento em perdão. É não revidar o mal, mas sempre praticar o bem. Dar sem esperar reconhecimento ou gratidão. A beleza da vida está justamente na “individualidade”, no ser único, criado por Deus para amar. E este ser único está ligado à coletividade pelos laços do coração e da evolução, a fim de aprender a compartilhar, respeitar, educar e ser feliz.
Somos o somatório dos nossos atos de ontem: por ter cometido inúmeros excessos, estamos conhecendo a escassez, ou melhor, sempre atuamos à margem, não conseguindo nos equilibrar no caminho reto, pois o processo de evolução é lento, não dá saltos, respeita o livre arbítrio, o grau de consciência e o merecimento de cada um.
A umbanda pratica o Jesus consolador, e, silenciosamente, vai evangelizando pelo Brasil afora, levando Suas máximas: “A água mais límpida é a que corre no centro do rio, pois as margens sempre contêm impurezas”. “Não vos inquieteis pelo dia de amanhã, porque o amanhã cuidará de si mesmo”, pois Ele nos envia o Seu amor incondicional, que não impõe condições, porque não julga, não cobra, apenas Se doa e espera pelo nosso despertar para as verdades espirituais, para o homem de bem que existe dentro de cada um de nós.
Quando Jesus se aproximou de João Batista, que, com os joelhos encobertos pela água do Rio Jordão, mais uma vez falava do Messias, ao olharem-se um ao outro, uma força poderosa instalou-se sobre todos os circunstantes. Jesus então aproximou-Se de João Batista, e este ajoelhou-se aos pés do cordeiro de Cristo. Mansamente Ele o levantou e agachou-Se sinalizando para que João O batizasse. Nesse instante único, vibraram intensamente sobre Jesus, no centro do seu chacra coronário, o Cristo Cósmico e todos os orixás. Foi preciso que o Messias fosse “iniciado” por um mestre do amor na Terra, para que se completasse Sua união com o Pai, e ambos fossem um. Esse é um dos quadros históricos mais expressivos e simbólicos que avalizam os amacis na umbanda.”


Texto extraído do livro “Umbanda Pé no Chão – Um guia de estudos orientados pelo espírito Ramatís
Autor: Norberto Peixoto

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

DEUS


“O Ente Supremo ao qual tributamos o mais elevado respeito e do qual temos algum conhecimento é, para nós, uma consciência dinâmica, que engloba em si mesmo a força propulsora da evolução universal e a dinâmica geradora e mantenedora da vida. Para os capelinos de nossa época, essa consciência dinâmica não poderá jamais ser comparada ou representada por formas humanas, pois o seu impulso diretor é observado em toda a criação, que atesta a existência de uma Vontade, orientada por objetivos bem definidos. Enquanto Deus, em suas religiões, é comparado somente ao bem, para nós capelinos, bem e mal são faces da mesma moeda. A trajetória terrena preferiu inventar a figura de um demônio para justificar as sombras, o mal aparente, o contraste. Para nós, entretanto, existe somente uma realidade, e esta se manifesta de acordo com a capacidade de percepção da criatura.
Deus, para nós, não pode ser unilateral, e a compreensão de sua consciência, com o intuito de ser universal , há de ser mais abrangente. Assim como o preto é o oposto do branco, e as sombras, o oposto da luz, há que existir muito mais por trás da vida do que simplesmente o bem e o mal, tal como vocês na Terra concebem, Portanto, ser perfeito não é questão de ser bom ou mau, equilibrado ou desequilibrado, mas conviver em paz com essa diversidade; é compreender a harmonia da criação, a harmonia dos opostos, respeitando a função dos contrários. A vida só progride com a percepção dos conflitos, do antagônico. O nosso conceito de Deus está intimamente ligado ao porquê de nossa existência. Desse modo, para nós, capelinos, é impossível conceber a luz sem o contraste da sombra, sem compreender que existe a noite. Não há como apreciar a manhã sem saber que existe a tarde. Sem as diversas alternativas do ser e do existir, sem o fator divergente, ainda não há como conhecer a vida e sua fonte geradora.
Conceber e compreender a vida, a nossa existência, é algo que está além da razão, do raciocínio. A existência do universo, dos seres criados, da própria criação está muito além da capacidade de compreensão humana, do raciocínio dos seres criados. Tudo isso foge, transcende a imaginação humana. O poder da consciência do Ente Supremo existe para conceber, planejar, coordenar e mediar as transformações, que se tornam acessíveis apenas mediante o processo evolutivo, ao longo das eras. O Deus que descobrimos dentro e fora de nós está além do bem e do mal, do certo e do errado, e, ao mesmo tempo, é a causa geradora de tudo, inclusive daquilo que impropriamente se classifica como certo ou errado. No processo de evolução do universo, ser bom ou mau é questão de estar inserido num processo evolutivo em determinado tempo e lugar. Em algum planeta, num recanto obscuro do universo, algo pode ser considerado bom, enquanto, em outro local, a mesma coisa poderá ser considerada má, de acordo com a conjuntura e os conceitos de cada povo ou civilização. Isso acontece mesmo entre as diferentes culturas da Terra.
Para compreender a vida, nossa origem e o próprio ser que denominamos de Deus, de consciência do Ente Supremo, precisamos entrar em contato com a natureza, penetrando-lhe e compreendendo-lhe a intimidade. Viver é compartilhar, sentir-se útil no projeto da criação e responsável direto pelo processo evolutivo. Viver também é colocar-se na posição de pesquisador da vida, de aprendiz do mundo, descobrindo todos os segredos do existir. Enfim, é achar em si mesmo o recanto onde se esconde essa consciência divina, esse fôlego do Todo-Sábio. Integrar-se ao universo é vocação de todo ser vivo, de toda alma ou consciência criada.....”


Texto extraído do livro “Crepúsculo dos Deuses” de Robson Pinheiro – Ângelo Inácio.

História da Encarnação do Caboclo das Sete Encruzilhadas no Brasil


Esta história chegou até nós, da T.E.F.L., há muitos anos através de uma entidade – um caboclo de Oxossi – enviado do Caboclo das Sete Encruzilhadas, cujo médium não temos informação se ainda está encarnado.
Inicialmente, uma rápida explicação quanto à confusão que alguns irmãos fazem, porque o Caboclo das Sete Encruzilhadas e o Exu Rei das Sete Encruzilhadas, são entidades que possuem nomes semelhantes (são quase homônimos), porém trata-se de espíritos distintos, cada um deles trabalhando espiritualmente em seu nível vibratório. Ambos prestam grandes serviços para a melhoria e desenvolvimento dos espíritos encarnados. Ambos estão em constante evolução, mas não existe qualquer relação de dependência entre eles.
Ao que se tem informação, é que o Caboclo das Sete Encruzilhadas, é um espírito muito antigo, já encarnado ao tempo da vinda do MESTRE JESUS à Terra e que na roda das suas encarnações, jamais apareceu no nível em que trabalham os nossos “compadres” Exus, como alguns, face a semelhança de alguns nomes, tentam explicar.
Ao tempo do Brasil colônia, mais precisamente no Estado do Rio de Janeiro, em uma localidade às margens do Rio Paraíba do Sul, chamada hoje de Barra do Piraí, precisamente neste local, o rio atingia uma grande largura e o seu leito tomava um aspecto sinuoso, ali existia uma fazenda de diversas culturas, entre as quais e em maior escala, a do café e da cana-de-açúcar. Tal propriedade, era administrada por uma família portuguesa, que ao contrário de outras existentes nas proximidades, ali não era exigido o braço escravo. Os negros que lá trabalhavam, recebiam além da casa e alimentação, uma remuneração em moeda, por isso era a propriedade mais próspera do local, isto graças à forma de administração adotada por seus proprietários. Próximo dali, vivia uma tribo de índios da Nação Tupi Guarany, com os quais os fazendeiros mantinham um excelente relacionamento.
O chefe da tribo, era moço e possuía uma razoável cultura, pois fora alfabetizado na capital, apaixonou-se por uma das filhas do fazendeiro, que correspondeu ao seu afeto vindo a casar-se com ele, contrariando os costumes de ambas as comunidades. Após a união, ela engravidou, tendo que viajar à capital do Rio de Janeiro, para tratamento médico, demorou-se algum tempo e ao regressar recebeu uma horrível notícia: que um grupo de índios estranhos na localidade, de surpresa, tentou invadir a fazenda para saqueá-la, os fazendeiros pediram socorro e os guerreiros Tupi Guarany, vieram, mas não puderam impedir que os pais da moça e seus irmãos fossem mortos. Na batalha, o chefe Tupi Guarany, seu marido, ficou gravemente ferido, vindo também a falecer em conseqüência.
Ao todo, sete pessoas foram assassinadas pela tribo invasora. E todos foram sepultados, em uma ilha situada no Rio Paraíba do Sul, dentro da fazenda. E a moça grávida, única remanescente da família de fazendeiros, ia todas as tardes rezar na ilha, junto à sete cruzes que demarcavam os locais onde seus pais, irmãos e esposo foram sepultados. Porém, em uma dessas tardes, em que rezava junto ao túmulo do esposo, sentiu-se em trabalho de parto e ali mesmo deu à luz a um menino, seu filho com o chefe Tupi Guarani, cujo corpo estava naquele local sepultado.
O menino cresceu cercado do imenso carinho de sua mãe e recebeu ensinamento proveniente de duas culturas: a cristã adotada por sua mãe e a outra orientada pelo pajé da tribo de seu pai. Estudou na Capital do Estado e posteriormente na Corte, recebendo instrução superior de Direito. Como advogado teve intensa atividade profissional em defesa de escravos nos Tribunais do Rio de Janeiro, que eram acusados de crimes pelos senhores escravagistas. Na qualidade de chefe de sua comunidade indígena, disfarçadamente, invadia as fazendas de regime escravo, libertando os cativos e colocando-os em local seguro. Na verdade ninguém conseguia identificar o chefe que comandava o grupo indígena libertador de escravos, ora ele se apresentava com o aspecto físico de indivíduo alto, ora baixo, as vezes gordo e outras vezes magro, cada ataque era comandado por uma pessoa diferente e assim ele conseguia se manter no anonimato, conseqüente a dupla personalidade. O seu verdadeiro nome era CABOCLO DAS SETE CRUZES ILHADAS, por ter nascido no local onde existiam sete cruzes em uma ilha, porém o povo por corruptela o chamava de CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS, nome que ele adotou humildemente, até mesmo em sua vida espiritual. Tal nome ficou fixado pelo povo escravo, que o adorava, e quando o grupo surgia na estrada eles cantavam uma toada que tinha a seguinte letra:

Lá vem, lá vem, bem longe na estrada
Lá vem, lá vem, o Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Após ter desencarnado voltou através da mediunidade de Zélio Fernandino de Moraes, em novembro de 1908, como espírito mensageiro, colocando as bases da UMBANDA no Rio de Janeiro.


Henrique Landi (neto) da Tenda Espírita Fraternidade da Luz


Texto extraído do livro "Umbanda Brasileira – Um século de História"
Autor: Diamantino Fernandes Trindade (Hanamatan)